Amélia Cruz: A voz do tradutor no romance juvenil contemporâneo

Os Estudos de Tradução da Literatura Infanto-Juvenil só agora começam a dar os seus primeiros passos, o que não admira tendo em conta que se está perante um campo da literatura até há pouco encarado como menor, fixando-se como disciplina autónoma apenas a partir dos anos oitenta do século passado. Assim, com a consolidação dos Estudos Literários Infanto-Juvenis e com o aumento exponencial de traduções de obras literárias para os mais novos, assiste-se, sobretudo nas duas últimas décadas, a um interesse crescente pela investigação nesta área da tradução e a um alargamento do debate à volta das suas questões específicas e dos desafios que ela coloca.
Grande parte dos autores, embora fazendo incidir os seus estudos sobre temáticas diversas e sob diferentes perspectivas, comunga da opinião de que a tradução da literatura infanto-juvenil tem especificidades próprias, resultantes, em grande medida, de um factor determinante: a relação desigual que, nesta área da literatura, se estabelece entre o escritor ou o tradutor adulto e o público-alvo jovem. É ainda de acrescentar que este público destinatário engloba indivíduos de diferentes faixas etárias e em diferentes estágios de desenvolvimento, pelo que não devem ser ignorados os requisitos, as capacidades e o reportório de competências dos leitores a que as obras se dirigem. Quer isto dizer que, mesmo no âmbito da Literatura Infanto-Juvenil, são diferentes os desafios que se levantam na tradução de obras destinadas a crianças e de obras destinadas a jovens.
A minha comunicação incidirá sobre o papel do tradutor do romance juvenil contemporâneo, ou, mais concretamente, do «romance adolescente», um subgénero literário que, para além de se destinar a um público jovem, se caracteriza essencialmente por ter, como personagens centrais, jovens adolescentes, inseridos nos seus próprios contextos sociais e culturais. Pergunta-se então: em que medida o tradutor – como mediador no processo de transferência deste tipo de texto narrativo através das fronteiras linguísticas e culturais – deverá calar a sua voz para que se revelem, em pleno, as marcas culturais presente no texto de origem, e em que medida deverá fazer ouvir a sua voz, de forma a tornar essas marcas acessíveis ao público destinatário? Esta é uma questão que considero fundamental e que constituirá o ponto de partir da reflexão que pretendo apresentar.