Maria Lin Moniz: Traduções, Vozes & Manipulações

É comum ouvir-se alguém dizer que já leu Balzac, Shakespeare, Dostoievski, Thomas Mann, Jaroslav Hašek, etc. A menos que tal leitor domine os idiomas em que esses autores escreveram e leia os chamados "originais", o mais correcto seria esse alguém dizer que leu traduções de obras de tais autores.
Este facto demonstra a invisibilidade a que o tradutor é condenado, assente no pressuposto de que a tradução, para além de transparente, é ainda um duplicado, rigorosamente coincidente, do texto de partida e que o tradutor se limita a expressar as ideias e o estilo do autor.
Neste estudo, procuraremos evidenciar, com exemplos práticos, o carácter ilusório de tais pressupostos, já que, em tradução, o que se faz ouvir não é apenas a voz do autor, mas uma pluralidade de vozes que condicionam e manipulam o texto dito original.