José Miranda Justo: Traduzir o estilo em Filosofia: o caso Kierkegaard

O estilo em Filosofia merece uma atenção particular, se se levar em linha de conta que a Filosofia não se constrói apenas por conceitos, mas também pelos modos específicos da construção dos conceitos e das suas articulações. A estes modos específicos chamamos estilos do pensar. E, se é certo que esses estilos do pensar são muitas vezes próprios de determinados autores, existem também os casos em que, por razões que podem variar, somos levados a reconhecer no mesmo autor uma diversidade de estilos, como acontece em Hamann, em Nietzsche, em Kierkegaard ou em Heidegger. 
A diversidade dos estilos tem consequências evidentes – mas nem sempre levadas em conta – na tradução dos textos filosóficos em que ocorre, com incidências vocabulares, sintácticas, morfológicas, fraseológicas e outras.
O caso Kierkegaard constitui porventura o mais elevado expoente desta diversidade e da complexidade que lhe está associada. Ao longo da obra de Kierkegaard é possível reconhecer múltiplas opções estilísticas gerais, em várias obras e, por vezes, ao longo da mesma obra. Estas questões têm sido objecto de análise no seio do grupo de trabalho que leva a cabo a tradução de um conjunto de obras de Kierkegaard no âmbito de um Projecto financiado pela FCT e a decorrer sob a égide do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. A presente comunicação procura fornecer uma visão geral desta problemática.